É preciso incluir a
saúde financeira nos programas corporativos de saúde e RH
*Alberto
Ogata – presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida
Pesquisa global
mostra que o bem-estar financeiro é o pior indicador no Brasil. As pessoas não
conseguem administrar suas finanças, não poupam para o futuro, se endividam,
gerando stress e adoecimento.
A maior pesquisa
global sobre bem-estar acaba de divulgar seus últimos resultados. O “Global
Well-Being Index” é uma iniciativa de duas empresas internacionais, Gallup e
Healthways e visa ser um barômetro das percepções individuais do bem-estar no
mundo todo. As organizações definem bem-estar como a maneira como as pessoas
pensam e vivenciam o dia-a-dia e sabe-se que isso está relacionado à
produtividade e custos em assistência médica, pois pessoas com altos níveis de
percepção de bem-estar são mais saudáveis, produtivos e resilientes diante dos
desafios cotidianos.
A pesquisa já fez
mais 1,25 milhões de entrevistas em mais de 160 países desde o seu início em 2005.
O Global Well-Being Index inclui cinco elementos de bem-estar: (1) Propósito –
o que você faz todo dia e o quanto está motivado para atingir os seus objetivos
(2) Social – relações afetivas e de suporte na vida (3) Financeiro –
gerenciamento sua vida financeira para reduzir o stress e aumentar a sua
segurança para o futuro (4) Comunidade – conexão com o local onde vive,
sentir-se seguro e estar integrado à comunidade (5) Físico – ter boa saúde e
energia suficiente para as atividades diárias. Estes elementos são avaliados e
classificados em três categorias: (1) vivendo próximo de sua plenitude (2) com
dificuldade (3) sofrendo.
Globalmente, apenas
17% da população está vivendo na plenitude em três ou mais elementos. A
categoria em que as pessoas têm melhores índices é o comunitário. Os
respondentes com maior nível educacional, que estão casados ou com
relacionamento estável são os que possuem o maior percentual de respondentes
com três ou mais elementos em que vivem em plenitude.
Com relação ao
Brasil, o melhor indicador foi o social, em que 52% dos respondentes estavam no
melhor indicador, estando semelhante ao conjunto das Américas. O percentual de
brasileiros que relataram estar no melhor nível do indicador propósito (45%)
foi superior ao dos outros países da região. A pesquisa revela que 49% dos
respondentes que estão empregados relatam estar vivendo em plenitude o
indicador propósito, em comparação com 39% dos não empregados. Este é um dos
sinalizadores de engajamento no trabalho que é um dado positivo.
Com relação ao
indicador de bem-estar comunitário, cerca de 41% estão no nível superior da
escala, mas constatou-se que os moradores em regiões urbanas possuem duas vezes
mais possibilidade de estar “sofrendo” nesta dimensão do que os habitantes na
zona rural.
O pior indicador no
Brasil foi o relacionado ao bem-estar financeiro. De acordo com o relatório
este indicador está baixo de maneira alarmante. As mulheres (46%) têm chance de
estar sofrendo nesta dimensão em relação aos homens (36%). Cerca de 41% dos
brasileiros relataram estar no pior estágio do bem-estar financeiro, em
comparação com 29% no continente e 25% no mundo como um todo.
O bem-estar
financeiro não está somente relacionado à renda. As pessoas que conseguem
gerenciar melhor as suas finanças, conseguem ter acesso a coisas que gostam,
doar recursos para causas comunitárias, usar recursos e tempo para atividades
sociais e estar mais tranquilo em relação ao futuro. As pessoas que têm altos
níveis de bem-estar financeiro têm menos stress, adoecem menos e têm menos
doenças crônicas. No entanto, muitas vezes, as pessoas são induzidas a consumir
demais, se endividam, não poupam e, consequentemente não conseguem fazer coisas
que gostam e que trazem bem-estar, como atividades de lazer, cultura ou social.
Neste contexto,
devemos considerar:
- De acordo com a
organização “Personal Finance Employee Education Foundation”, o número de
americanos que conseguem lidar “bem” com suas finanças caiu significativamente
de 42% para 24% entre 2006 e 2012;
- De acordo com
um estudo de 2009 intitulado “Trabalhos de Pesquisa: Parcerias em prol da Saúde
Mental no Ambiente de trabalho”, o dinheiro representa uma fonte significativa
de estresse para 81% das pessoas, enquanto a economia ficou em segundo lugar,
com 80%, o trabalho representando 67%, problemas de saúde familiar
representando 67%, e gastos com habitação, 62%.
- Uma pesquisa da
Associated Pressão Health Poll intitulada “Estresse oriundo de dívidas: o
impacto do dinheiro em nosso corpo” mostrou que 39% das pessoas com altos
níveis de estresse têm problemas com insônia/sono. Em segundo lugar, está a
alta pressão sanguínea, para 33% dos respondentes. Acima de ¼ (27%) dos
respondentes relataram úlceras estomacais. Mais que a metade (51%) relatou
dores musculares e dores nas costas, enquanto que 29% disseram sofrer de
ansiedade extrema e outros 23% sofrem de depressão grave. Enxaquecas e dores de
cabeça também foram relatadas como problemas presentes no dia a dia de 44% dos
respondentes.
Em várias partes do
mundo, as empresas possuem programas de gestão financeira pessoal, com
orientação profissional, acompanhamento e suporte. Ajudam os colaboradores a
constituírem um fundo de reserva pessoal, contribuírem para a previdência
complementar e não se endividarem demais. Oferecem incentivos para esta adesão
e incluem esta ação nos programas de qualidade de vida. No Brasil há poucas
iniciativas e que têm caráter pontual. Os dados apresentados por esta pesquisa
ressaltam a importância de incluir este tema nos programas de saúde, recursos
humanos e qualidade de vida no ambiente corporativo.
*Fonte:
Saúde
Business 365
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