segunda-feira, 29 de setembro de 2014

É preciso incluir a saúde financeira nos programas corporativos de saúde e RH

É preciso incluir a saúde financeira nos programas corporativos de saúde e RH

*Alberto Ogata – presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida
Pesquisa global mostra que o bem-estar financeiro é o pior indicador no Brasil. As pessoas não conseguem administrar suas finanças, não poupam para o futuro, se endividam, gerando stress e adoecimento.
A maior pesquisa global sobre bem-estar acaba de divulgar seus últimos resultados. O “Global Well-Being Index” é uma iniciativa de duas empresas internacionais, Gallup e Healthways e visa ser um barômetro das percepções individuais do bem-estar no mundo todo. As organizações definem bem-estar como a maneira como as pessoas pensam e vivenciam o dia-a-dia e sabe-se que isso está relacionado à produtividade e custos em assistência médica, pois pessoas com altos níveis de percepção de bem-estar são mais saudáveis, produtivos e resilientes diante dos desafios cotidianos.
A pesquisa já fez mais 1,25 milhões de entrevistas em mais de 160 países desde o seu início em 2005. O Global Well-Being Index inclui cinco elementos de bem-estar: (1) Propósito – o que você faz todo dia e o quanto está motivado para atingir os seus objetivos (2) Social – relações afetivas e de suporte na vida (3) Financeiro – gerenciamento sua vida financeira para reduzir o stress e aumentar a sua segurança para o futuro (4) Comunidade – conexão com o local onde vive, sentir-se seguro e estar integrado à comunidade (5) Físico – ter boa saúde e energia suficiente para as atividades diárias. Estes elementos são avaliados e classificados em três categorias: (1) vivendo próximo de sua plenitude (2) com dificuldade (3) sofrendo.
Globalmente, apenas 17% da população está vivendo na plenitude em três ou mais elementos. A categoria em que as pessoas têm melhores índices é o comunitário. Os respondentes com maior nível educacional, que estão casados ou com relacionamento estável são os que possuem o maior percentual de respondentes com três ou mais elementos em que vivem em plenitude.
Com relação ao Brasil, o melhor indicador foi o social, em que 52% dos respondentes estavam no melhor indicador, estando semelhante ao conjunto das Américas. O percentual de brasileiros que relataram estar no melhor nível do indicador propósito (45%) foi superior ao dos outros países da região. A pesquisa revela que 49% dos respondentes que estão empregados relatam estar vivendo em plenitude o indicador propósito, em comparação com 39% dos não empregados. Este é um dos sinalizadores de engajamento no trabalho que é um dado positivo.
Com relação ao indicador de bem-estar comunitário, cerca de 41% estão no nível superior da escala, mas constatou-se que os moradores em regiões urbanas possuem duas vezes mais possibilidade de estar “sofrendo” nesta dimensão do que os habitantes na zona rural.
O pior indicador no Brasil foi o relacionado ao bem-estar financeiro. De acordo com o relatório este indicador está baixo de maneira alarmante. As mulheres (46%) têm chance de estar sofrendo nesta dimensão em relação aos homens (36%). Cerca de 41% dos brasileiros relataram estar no pior estágio do bem-estar financeiro, em comparação com 29% no continente e 25% no mundo como um todo.
O bem-estar financeiro não está somente relacionado à renda. As pessoas que conseguem gerenciar melhor as suas finanças, conseguem ter acesso a coisas que gostam, doar recursos para causas comunitárias, usar recursos e tempo para atividades sociais e estar mais tranquilo em relação ao futuro. As pessoas que têm altos níveis de bem-estar financeiro têm menos stress, adoecem menos e têm menos doenças crônicas. No entanto, muitas vezes, as pessoas são induzidas a consumir demais, se endividam, não poupam e, consequentemente não conseguem fazer coisas que gostam e que trazem bem-estar, como atividades de lazer, cultura ou social.
Neste contexto, devemos considerar:
- De acordo com a organização “Personal Finance Employee Education Foundation”, o número de americanos que conseguem lidar “bem” com suas finanças caiu significativamente de 42% para 24% entre 2006 e 2012;
-  De acordo com um estudo de 2009 intitulado “Trabalhos de Pesquisa: Parcerias em prol da Saúde Mental no Ambiente de trabalho”, o dinheiro representa uma fonte significativa de estresse para 81% das pessoas, enquanto a economia ficou em segundo lugar, com 80%, o trabalho representando 67%, problemas de saúde familiar representando 67%, e gastos com habitação, 62%.
- Uma pesquisa da Associated Pressão Health Poll  intitulada “Estresse oriundo de dívidas: o impacto do dinheiro em nosso corpo” mostrou que 39% das pessoas com altos níveis de estresse têm problemas com insônia/sono. Em segundo lugar, está a alta pressão sanguínea, para 33% dos respondentes. Acima de ¼ (27%) dos respondentes relataram úlceras estomacais. Mais que a metade (51%) relatou dores musculares e dores nas costas, enquanto que 29% disseram sofrer de ansiedade extrema e outros 23% sofrem de depressão grave. Enxaquecas e dores de cabeça também foram relatadas como problemas presentes no dia a dia de 44% dos respondentes.
Em várias partes do mundo, as empresas possuem programas de gestão financeira pessoal, com orientação profissional, acompanhamento e suporte. Ajudam os colaboradores a constituírem um fundo de reserva pessoal, contribuírem para a previdência complementar e não se endividarem demais. Oferecem incentivos para esta adesão e incluem esta ação nos programas de qualidade de vida. No Brasil há poucas iniciativas e que têm caráter pontual. Os dados apresentados por esta pesquisa ressaltam a importância de incluir este tema nos programas de saúde, recursos humanos e qualidade de vida no ambiente corporativo.


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