ANS avalia qualidade dos planos de saúde no Brasil
Cláudia Collucci
O mercado de planos de saúde enfrenta uma grave crise, com redução de
beneficiários e possibilidade de mais quebra de operadoras, segundo especialistas
do setor.
Só no último trimestre (de julho a setembro), a perda foi de 236,2 mil
clientes. A desaceleração começou há um ano, quando a taxa de crescimento
começou a cair. No mês passado, o setor registrou a perda de 164,4 mil
beneficiários.
Setembro fechou com total de 50,26 milhões de clientes –queda de 0,3% em
relação ao mesmo período de 2014. A análise é do IESS (Instituto de Estudos da
Saúde Suplementar), a partir de dados da ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar).
A quebra da Unimed Paulistana, que figurava entre as maiores do sistema
Unimed, acendeu o alerta vermelho. Para a advogada Renata Vilhena,
especializada em direito à saúde, o risco de mais operadoras quebrarem é real.
"A Unimed Rio já está sofrendo intervenção da ANS. A Unimed
Paulistana estava sofrendo intervenção da ANS desde 2009 e durante esse período
a situação piorou, culminando na catástrofe anunciada em setembro",
afirma.
Para a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), a retração
do mercado pode ser atribuída à atual crise econômica, em especial à retração
do mercado de trabalho e do rendimento real dos brasileiros.
A Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo) diz que a
situação do setor também foi agravada pela inclusão de novos procedimentos que
os planos são obrigados a oferecer.
"O reajuste autorizado pelo governo [no caso dos planos
individuais] não paga esses custos. Estamos numa encruzilhada. O setor está
destruído", diz Pedro Ramos, diretor da Abramge. Os planos individuais
representam cerca de 20% do mercado.
Mas Ramos não acredita em "quebradeira geral" do setor.
"Haverá concentração de mercado. As empresas mais sólidas vão ter que
socorrer as que estão em dificuldades."
CUSTOS
Na opinião de Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS,
a "quebradeira" se aplica a casos pontuais. "O que não significa
dizer que o setor não enfrente dificuldades e tenha seus desafios. Há uma
década temos notado que os custos da saúde superam, de forma significativa, a
inflação média do país", diz Luiz Augusto Carneiro,
superintendente-executivo do instituto.
Em dezembro de 2014, o indicador VCMH (Variação do Custo
Médico-Hospitalar) apontou alta acumulada em 12 meses de 16,7%, enquanto o IPCA
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) era de 6,7%.
Na opinião de Carneiro, o setor deve fechar o ano em queda, mas em
proporção inferior à retração do PIB e do nível de emprego. "O plano de
saúde é o terceiro principal desejo do brasileiro, atrás de educação e da casa
própria. Então, é natural que, enquanto houver condições financeiras, os
beneficiários e as empresas tentarão preservar esse benefício."
Para Vilhena, porém, a crise do mercado de planos é resultado de uma
"crise de valores institucionais". "As pessoas só pensam em
beneficio próprio, em receber vantagem financeira imediata, sem pensar no
amanhã. Conversar com os idosos vítimas desta situação da Unimed Paulistana dá
desespero, as famílias estão sem qualquer opção. Os planos oferecidos pelo
acordo tem uma rede credenciada muito pequena, sem condições de atender 750 mil
pessoas."
fonte Folha de São Paulo
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