quarta-feira, 9 de maio de 2018

Entrevista: Claudia Jorgenson, responsável pela revisão de padrões de programas de acreditação e certificação da JCI

Atuando como diretora de Desenvolvimento e Interpretação de Padrões da Joint Commission International (JCI) desde 2012, Claudia Jorgenson é a responsável pela revisão dos padrões dos sete programas de acreditação e dos programas de certificação da JCI. Recentemente, ela esteve no Brasil para conhecer as principais questões e expectativas em relação aos novos padrões para acreditação de ambulatórios, ouvindo representantes de ambulatórios acreditados e de outras organizações do país em processo de educação para acreditação, preparados pelo associado brasileiro da JCI, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA). A metodologia para o desenvolvimento dos novos padrões ambulatoriais, que serão lançados em 2019, prevê ainda outros encontros de membros da JCI com representantes de instituições de saúde em diferentes áreas do mundo, os chamados grupos focais.
Animada com o resultado do encontro no Brasil, Claudia Jorgenson destacou a riqueza das informações coletadas e se disse recompensada pela troca de experiências com gestores tão preocupados com a questão da qualidade no atendimento em saúde e na segurança do paciente. Confira a entrevista completa!
Qual a importância de realizar encontros com representantes locais?
A JCI precisa receber feedback das pessoas que usam os padrões para ter a certeza de que realmente estejam melhorando a qualidade. É importante saber se esses padrões estão funcionando bem para essas instituições.
Como a JCI analisa essas informações de todo o mundo e as filtra para elaborar os novos padrões?
Essa informação é coletada e levada para a minha equipe. Nós procuramos encontrar temas e assuntos que tenham sido mencionados várias vezes, por diferentes pessoas. Com base nesse feedback, analisamos como é possível melhorar os padrões. Fazemos esse estudo em várias partes do mundo, porque estamos falando de padrões que são usados internacionalmente.
Quantas reuniões e em quais locais essas reuniões são realizadas?
Tentamos ir a diferentes regiões, para ter certeza de que teremos feedbacks variados. Procuramos localizar onde existem mais ambulatórios acreditados. O Brasil tem cerca de 18 ambulatórios acreditados, no Oriente Médio são aproximadamente 25. E estamos buscando também trabalhar na região da Ásia: na Tailândia e na Coreia são aproximadamente 20 ambulatórios acreditados. Buscamos receber o feedback dos clientes que utilizam os nossos padrões.
Por que há a necessidade de elaboração de novos padrões e protocolos?
Porque o cuidado ao paciente está sempre mudando. Sempre surgem coisas novas. Por exemplo, em relação à tecnologia da informação. Muitas organizações estão usando prontuários médicos eletrônicos. Então, temos que desenvolver padrões que enderecem às questões da segurança da informação em relação aos prontuários médicos eletrônicos.
De quanto em quanto é preciso fazer revisões dos padrões existentes?
Tentamos fazer a cada três ou quatro anos. Nossos padrões são certificados pela International Society for Quality in Healthcare (ISQua) e a cada quatro anos temos que fazer a acreditação dos nossos próprios padrões. Então, tentamos atualizá-los dentro desse período.
Quais as principais questões trazidas pelos representantes de ambulatórios acreditados de todo o mundo, em especial, do Brasil?
A mais importante foi como customizar os padrões para instituições menores, não hospitalares. Como customizar padrões que são de hospitais para ambulatórios. Mundialmente falando, vimos que temos que ter padrões mais específicos para centros médicos distintos, como odontológicos, de diagnóstico e de exames de imagem. O Brasil trouxe muito essa questão da necessidade de padrões aplicáveis a organizações menores. Os brasileiros também trouxeram preocupações relacionadas a tratamentos oncológicos e à saúde mental dos próprios funcionários, em relação à dificuldade de lidar com o dia-a-dia, com as questões de erros no tratamento e mesmo a dificuldade em lidar com pacientes oncológicos, ou seja, fatores mais ligados ao emocional e à saúde mental do funcionário.
Quando você fala customização, na realidade é uma adequação? Por que isso é necessário?
Os pacientes internados e ambulatoriais têm os mesmos tipos de problemas, mas de formas diferentes. Então, vamos analisar o exemplo das quedas. Pacientes internados têm risco muito maior de queda. Dentro do hospital, ele está dentro de um quarto, sem a família, com risco maior de queda. Geralmente, está doente e pode estar numa condição de fraqueza maior, então a avaliação do risco de queda e intervenção para a prevenção de quedas é diferente. O paciente no ambulatório está geralmente bem, andando perfeitamente. Alguns deles têm risco de queda. Pode não ser um risco tão grande quanto o dos pacientes internados, então temos que olhá-los de forma diferente.
A partir das questões trazidas pelos representantes de ambulatórios acreditados no Brasil já houve alguma discussão sobre respostas e soluções?
Houve a coleta dessas informações. Minha equipe vai se debruçar sobre o assunto e mais tarde eu vou retornar a essas instituições com as recomendações. Essas instituições vão fazer um ‘trabalho de campo’ com base nessas recomendações e posteriormente vão repassar à JCI as conclusões: o que foi e o que não foi aplicado, o que deu certo e o que não deu resultado. A equipe da JCI vai trabalhar novamente sobre esse material para então definir os novos padrões a partir das sugestões que foram feitas. Esse é o ciclo de desenvolvimento de novos padrões.
De que forma os padrões / protocolos JCI podem ajudar a melhorar a qualidade e segurança na saúde?
Acredito que os padrões ajudam as organizações a identificar onde é preciso trabalhar. Os padrões foram desenvolvidos com base em situações que foram analisadas ao longo dos anos e que poderiam causar danos aos pacientes. A implementação dos padrões deve reduzir os riscos dos pacientes de terem danos.
Como avalia a saúde no Brasil?
É difícil dizer, porque eu não tenho grande experiência sobre o cuidado assistencial no Brasil. Mas gostaria de registrar que acho maravilhoso que as pessoas tenham dedicado seu tempo para discutir sobre melhorias dos cuidados ao paciente em suas organizações. São pessoas muito ocupadas que reservaram tempo para vir a esse encontro, trocar experiências comigo. Algumas vieram de outros estados, de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul. Então, eu me sinto muito recompensada em ver que há esse interesse e essa preocupação por parte desses profissionais.



www.cbacred.org.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário