terça-feira, 3 de maio de 2011

Novo manual de acreditação traz mudanças ao processo de acreditação


Novo manual de acreditação traz mudanças ao processo de acreditação

Em sua quarta edição, os manuais da Joint Commission International (JCI) são revisados a cada três anos. O novo manual para o setor hospitalar, adotado em todo o mundo a partir de janeiro deste ano, foi revisado e aprimorado pelos 16 membros do Comitê Internacional de Padrões de Qualidade e Segurança (o Consórcio Brasileiro de Acreditação é representado pela Coordenadora de Acreditação, a médica Ana Tereza Miranda). O Manual de Acreditação Hospitalar, versão 2011, conta agora com cerca de 340 padrões e mais de 1.230 itens de verificação. “Além disso, a JCI aumentou o rigor para acreditar uma instituição. Antes, a exigência era de que um hospital cumprisse em 80% as metas propostas no manual. A partir de agora, o índice mínimo é 90%”, adverte Heleno Costa Júnior, Coordenador de Ensino do CBA.

Segundo ele, a nova versão tem um grande diferencial no capítulo que trata da gestão da qualidade e segurança dentro das instituições de saúde. “Houve um aumento no rigor em relação à análise do gerenciamento de indicadores, gerenciamento de eventos adversos e de eventos de sentinela”, avalia dizendo que a perspectiva da JCI foi dar maior grau de profissionalização ao processo de gestão de qualidade. “Isso ficava permeado por algumas iniciativas muito básicas no processo de gestão. Nessa nova versão do manual, a JCI apertou esse rigor. A lógica é fazer com que a instituição demonstre de forma muito técnica e científica como ela faz a gestão dos seus indicadores, principalmente os clínicos, de desempenho”, explica. Critérios mais rigorosos representam a necessidade de um tratamento estatístico dos indicadores com maior seriedade. Heleno exemplifica dizendo que toda vez que uma instituição for publicar ou se utilizar publicamente de um indicador próprio, ela precisará provar que aquele indicador é confiável, através de uma auditoria independente externa. “Será preciso validar os dados do ponto de vista técnico, científico e estatístico”, argumenta. Segundo o coordenador do CBA, poucos hospitais no Brasil têm essa prática. “O Albert Einstein, por exemplo, publica em seu site, a taxa de infecção hospitalar. Para continuar publicando será preciso referendar aquele número com uma instituição independente para certificar que ele foi colhido sob método científico e estatístico. Isso vem ao encontro de uma questão ética, pois a instituição vai publicar um dado que ele apresenta com um bom resultado e que vai gerar uma expectativa dentro da sociedade sobre a qualidade dos serviços daquele hospital”, argumenta.

Outra novidade em relação ao manual é o capítulo que trata da avaliação de desempenho dos médicos. “A instituição deve ter uma avaliação anual de desempenho dos médicos em relação à atividade que cada um deles presta na instituição. O hospital tem que estabelecer um conjunto de critérios e parâmetros de qualidade para avaliar esses médicos e dizer se eles estão em conformidade com esse padrão, se o trabalho está em uma média aceitável, com base técnica e científica”, conta Heleno. Segundo ele, cada instituição deve estabelecer seu o próprio padrão, mas é preciso que cumpra o mínimo estabelecido pelo manual: tempo de permanência, dados de morbidade, utilização de consultas de especialistas, solicitação de exames e procedimentos, padrão de uso de sangue e produtos farmacêuticos em geral e procedimentos cirúrgicos e clínicos, incluindo seus resultados.

O Coordenador de Educação do CBA revela que os hospitais estão passando a contratar estatísticos e epidemiologistas, profissionais especializados em fazer uma análise, por exemplo, dos motivos que levaram cada médico a solicitar exames. “Em pesquisa recente em uma instituição, encontramos 17% de exames desnecessariamente pedidos e, desses, 25% só foram entregues depois da alta do paciente, ou seja, não serviram para nada”, alerta. Heleno adianta que a lógica desta cobrança sobre os médicos não é cercear seus direitos ou trabalho, mas conduzir o aprimoramento dos profissionais que se encontram no mercado. “Muitas das vezes, o próprio médico não sabe que seu resultado não está adequado a padrões que nem existiam, mas que precisam ser criados e mantidos. A lógica é que os médicos sejam avaliados dentro de critérios de consenso do próprio grupo e depois eles recebam o feedback para melhorar ou manter o seu desempenho”, defende Heleno.

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