Infecção Hospitalar: um problema do
mundo, um problema de todos
Dia 15 de maio é celebrado o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares. As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), principalmente as adquiridas no ambiente hospitalar, estão entre as principais causas de morbidade e de mortalidade e o consequente aumento de custo. O problema, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta 10 em cada 100 pacientes hospitalizados em países desenvolvidos e 7 hospitalizados em cada 100 em países em desenvolvimento. Para comentar o fato e saber como evitar a infecção hospitalar (IH), entrevistamos a enfermeira Irene Rêgo Haddad. Ela que é Supervisora de Procedimentos Técnicos e Serviços do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), representante exclusivo no Brasil da Joint Commission International (JCI), é especialista em Gerência de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e em Controle de Infecção Hospitalar pelo Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa (INESP-SP). Leia abaixo a entrevista na íntegra.
CBA - O que os
hospitais brasileiros devem fazer para diminuir estas estatísticas?
Irene Haddad - Em primeiro lugar os hospitais devem
constituir através
de membros executores e consultores uma comissão de controle de infecção, apoiada pelas lideranças da instituição, conforme orientado na
Lei nº
9431/ 97 e na Portaria MS 2616/98. Devem
elaborar e implantar um programa de controle de infecções abrangente, incluindo
todas as áreas por onde circulam pacientes,
profissionais e visitantes, com foco na redução dos riscos de infecções
associadas ao cuidado à saúde. Medidas de isolamento, técnica de higiene das mãos, limpeza de
artigos e superfícies, educação de profissionais, pacientes e familiares. Tudo isso, monitorado através de indicadores, constitui um forte
alicerce para a redução destas estatísticas.
CBA - Ainda de acordo com a OMS, a carga
endêmica de infecções associadas aos cuidados de saúde também é significativamente maior nos países de
renda média e baixa do que nos países de alta renda, em particular em pacientes
internados em unidades de terapia intensiva e em recém-nascidos. Essa diferença
na taxa de IH ocorre também internamente em nosso país, comparando regiões
brasileiras mais pobres com as regiões mais desenvolvidas?
I.H. - Infelizmente sim, pois as regiões
menos desenvolvidas têm menor acesso
a profissionais
qualificados e
materiais, principalmente. As taxas de IH em UTIs são maiores em função dos
procedimentos invasivos ali executados e do tempo de permanência destes dispositivos invasivos, como cateter venoso
central, sonda vesical de demora e tubo traqueal. Além disso, existem os fatores de risco
associados ao paciente e a própria doença.
CBA - Segundo a OMS, os recém-nascidos
estão em maior risco de adquirir infecções associadas aos cuidados de saúde nos
países em desenvolvimento, com as taxas de infecção de três a 20 vezes maior do que nos países de
alta renda. A que atribui-se esse fato?
I.H. - A incidência das IRAS em neonatos está relacionada com o peso ao nascimento, a
utilização de cateter venoso central e com o tempo de ventilação mecânica, que definem o tempo de
permanência, tanto dos dispositivos invasivos quanto de internação. Quanto
menor o peso e a idade gestacional, maiores o tempo de internação e o risco de
aquisição de infecções.
CBA – O Programa Nacional de Controle de
Infecção Hospitalar determina que hospitais, públicos e privados, mantenham um
Programa de Infecções Hospitalares, através da criação da Comissão de Controle
e Infecção Hospitalar (CCIH). Quais as recomendações da JCI/CBA frente a essa
situação?
I.H. - O programa de acreditação
internacional desenvolvido pelo CBA-JCI traz em seu conjunto de padrões,
requerimentos específicos
para a definição e o estabelecimento de práticas sistematizadas para garantir a
correta utilização das técnicas de higiene das mãos, em especial, nas unidades ou
serviços de maior complexidade ou maior risco
como unidades intensivas e centros cirúrgicos. Além da sistematização dessas práticas, a instituição de saúde deve monitorar de forma contínua os resultados relacionados com a
prevenção e o controle de infecções, adotando indicadores específicos, incluindo a observação direta dos
profissionais em seus ambientes de trabalho.
CBA - De acordo com a OMS, entre os
fatores que colocam pacientes em risco de infecção estão: o uso prolongado e
inadequado de dispositivos invasivos e antibióticos e a aplicação insuficiente
das precauções padrão e isolamento. Quais as recomendações da JCI/CBA nesse sentido?
I.H. - No capítulo de Prevenção e Controle de
Infecções (PCI), do Manual de Padrões de Acreditação da JCI para Hospitais, é recomendado que cada instituição identifique as infecções de importância epidemiológica, os locais de infecção e os
dispositivos, procedimentos e práticas relacionadas, onde serão concentrados os esforços para prevenir e reduzir a incidência de infecções associadas aos cuidados de saúde.
A instituição deve disponibilizar precauções de barreira e procedimentos bem
definidos de isolamento para proteger os pacientes, inclusive os
imunossuprimidos, mais vulneráveis, visitantes e profissionais, contra doenças transmissíveis, especialmente os germes de maior
relevância epidemiológico nos dias de hoje, que são os
multiresistentes, também associados ao uso prolongado e indiscriminado de antibióticos.
As instituições devem coletar e avaliar
sistematicamente seus dados sobre as seguintes infecções e locais: trato
respiratório, trato urinário, dispositivos intravasculares
invasivos, doenças
e microorganismos de relevância epidemiológica e infecções emergentes ou reemergentes na
comunidade.
CBA - Qual a contribuição que a educação continuada pode dar
para prevenir IH?
I.H. - A educação continuada de profissionais é um pilar muito importante na prevenção
das infecções hospitalares. É de responsabilidade da instituição fornecer
educação
sobre práticas de prevenção e controle de
infecção aos profissionais, pacientes e familiares e a outros prestadores de
cuidado, quando indicado por seu envolvimento no cuidado.
CBA – Como enfrentar este problema?
I.H. - São diversas as armas para
combater as infecções
hospitalares.
A principal delas é a mudança de comportamento obtida por meio da atuação efetiva dos profissionais
(qualificados) da CCIH, com foco na educação. Todos os níveis da organização devem ser envolvidos no processo
educativo. Pacientes e familiares devem ser incluídos no esforço de prevenção com medidas educativas e de
esclarecimento sobre as melhores práticas, inclusive estimulando a observação do cumprimento destas pelos profissionais envolvidos no cuidado.
A higienização das mãos é a atitude
mais simples e mais eficiente na prevenção da infecção hospitalar, mas também é
de difícil adesão, no mundo inteiro. O aumento da adesão à higienização correta das mãos é um grande desafio. A implementação de processos seguros e procedimentos bem descritos e monitorados é outro
bom caminho.
O programa de controle da infecção hospitalar deve ser monitorado
através de indicadores. Hospitais comprometidos com a excelência coletam e acompanham rigorosamente seus indicadores, reportam seus dados para os órgãos oficiais e entidades do setor, e
comparam seu desempenho com instituições de referência, inclusive do exterior.
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