Artigo: A
Voz do Paciente: razões para deixar de ter medo ao interagir em seus cuidados
* Por Rima
Farah
Segundo a
Organização Mundial de Saúde, apenas a ausência de enfermidade não é suficiente
para definir saúde, pois dela fazem parte também o bem-estar físico, mental e
social. Isso significa que todos nós, em algum momento da vida, passaremos por
uma fase de doença. Quando estamos doentes, nos encontramos fragilizados,
precisando de ajuda, sem saber exatamente o que nos espera. É nesse momento que
os pacientes mais precisam dos serviços e instituições de saúde, não somente em
relação a assistência clínica, mas também em relação a credibilidade. Ter
segurança em um momento que por si é de temor, é importantíssimo para o
bem-estar do paciente. No entanto, frequentemente, a imprensa tem noticiado
situações envolvendo incidentes como cirurgias em pacientes errados, erros de
administração de medicamentos, infecções hospitalares adquiridas durante o
tratamento, e até mesmo morte prematura em decorrência de falhas no sistema de
saúde. São os chamados Eventos Adversos, que causam lesões ou danos temporários
ou permanentes às pessoas, gerando grande impacto negativo para pessoas e
instituições. A boa notícia é que grande parte destas falhas podem ser
evitadas.
Para
enfrentar este desafio, muitas instituições de saúde têm adotado o processo de
acreditação, que é um sistema de revisão por pares para determinar o
cumprimento de um conjunto de normas ou padrões de qualidade e segurança.
Sustentabilidade, responsabilidade ética e social fazem parte deste processo, e
tem motivado as instituições de saúde na busca por resultados que atendam a
todos os envolvidos: pacientes, profissionais de saúde, comunidade e meio
ambiente.
Padrões de
qualidade devem envolver educação do paciente e familiares e seus direitos e
deveres. O cuidado centrado no paciente é fundamental para a melhoria da
qualidade e segurança dos cuidados assistenciais. Uma cultura de segurança
significa comportamentos organizacionais e individuais alinhados com a
segurança e a qualidade dos serviços prestados, onde a responsabilidade pela
segurança é compartilhada por todos os profissionais de saúde, independente do
cargo, e inclui a participação do paciente e seus familiares nas decisões sobre
seus cuidados.
O Manual de
Padrões de Acreditação da Joint Commission International para Hospitais trata
do empoderamento do paciente, principalmente em 2 capítulos: Direitos do
paciente e familiares (PFR) e Educação de pacientes e familiares (PFE). A
prática educativa é o processo mais importante para engajar pacientes e
familiares no seu cuidado de saúde, transformando conhecimento, percepções e
habilidades em comportamento ativo. O processo para empoderamento respeita cada
paciente e sua família como únicos, com valores culturais, psicossociais e
espirituais próprios que devem ser protegidos. A baixa literacia em saúde, ou
alfabetização em saúde (capacidade de compreender a informação de saúde e usar
esta informação para tomar as melhores decisões sobre sua saúde e cuidados
médicos) afeta a forma com que as informações são compartilhadas e não depende
de idade, idioma ou nível educacional. Sendo assim, os direitos e
responsabilidades devem ser apresentados de uma maneira e linguagem que todos
possam compreender. Os profissionais de saúde devem ser treinados nas políticas
e procedimentos e na sua função de apoio aos direitos dos pacientes e
familiares para participar nos processos de cuidados. Pacientes com
conhecimento, aptidões e confiança tendem a adotar comportamentos de saúde
positivos e com melhores resultados.
A educação
eficaz considera a avaliação das necessidades de aprendizagem do paciente e
família: o que precisam aprender, qual a melhor forma de aprendizagem
considerando valores religiosos e culturais, informação barreiras linguísticas,
cognitivas, vontade de aprender, e qual material de apoio pode ser útil. Dentre
as estratégias de envolvimento do paciente, o consentimento informado é uma das
mais importantes, pois une educação sobre direitos e responsabilidades e
educação para a saúde. Para consentir na realização de seu tratamento, o
paciente deve ser informado sobre sua condição atual de saúde, os tratamentos
propostos, o nome do médico responsável pelo seu tratamento, os benefícios e
riscos em potencial deste tratamento, quais possíveis alternativas, qual a
probabilidade de sucesso, os possíveis problemas relativos à recuperação e os
possíveis resultados da falta de tratamento. A educação eficaz do paciente e da
família precisa estar disponível em vários formatos para atender às
necessidades educacionais da população de pacientes. A mobilização
institucional através de metas e campanhas internacionais também deve incluir o
paciente como ator deste processo de segurança, por exemplo, observando a
prática correta de higienização das mãos entre visitantes do paciente e
profissionais de saúde. Uma educação eficaz proporciona o empoderamento do paciente,
dando a ele a oportunidade e o direito de contribuir para que a cultura de
segurança da instituição seja continuamente melhorada. A voz do paciente pode
contribuir para a redução de eventos adversos evitáveis, como infecções
relacionadas à assistência à saúde, erros de administração de medicamentos,
quedas de pacientes, desenvolvimento de lesões por pressão, e realização de
cirurgia errada, em paciente ou em local errado.
O apoio e o
suporte para seu autoconhecimento, o respeito às suas crenças e valores, aos
seus limites físicos, econômicos, psicológicos e emocionais, o fornecimento de
educação sobre sua condição atual de saúde e doença, sobre os riscos e
benefícios dos tratamentos propostos, sobre os riscos de não tratar, aumentam a
confiança no processo de cuidado e nos profissionais de saúde que o atendem,
proporcionam segurança para a tomada de decisão sobre seu tratamento,
encorajando os pacientes a adotar um papel mais colaborativo na gestão da sua
saúde, sem medo de interagir em seu cuidado.
* Rima
Farah é enfermeira e supervisora de projetos do Consórcio Brasileiro de
Acreditação, associado brasileiro da Joint Commission International
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