terça-feira, 15 de maio de 2018

Auditoria interna da Qualidade cresce em unidades de saúde do país



Auditoria interna da Qualidade cresce em unidades de saúde do país
CBA oferece curso para quem quer atuar na atividade
Responsável por verificar a conformidade, ou não, dos processos e detectar possíveis problemas, recomendando providências corretivas, o auditor interno da Qualidade é uma função cada vez mais presente em unidades de saúde, especialmente naquelas que estão buscando a acreditação ou que já são acreditadas e se empenham para manter a chancela. A auditoria interna hospitalar contribui para a melhoria da cultura organizacional e o resultado operacional, através da mensuração e aperfeiçoamento da qualidade, com gerenciamento de processos e informações administrativas, clínicas e financeiras, auxiliando diretamente no planejamento estratégico institucional. Cabe ao auditor fazer cumprir uma política de autoavaliação que garanta o êxito e a continuidade dos métodos implementados.
Com o crescente interesse das instituições de saúde por aperfeiçoar seus processos, a busca por essa especialização também aumentou. Para atender a esse público, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) desenvolveu o curso Auditores Internos da Qualidade. A próxima edição acontece em São Paulo, nos próximos dias 21 e 22 de maio. O engenheiro mecânico pós-graduado em Análise de Sistemas, especialista em gestão de processos em unidades de Saúde e educador na Coordenação de Educação do CBA, Antonio Jorge Dias Fernandes dos Santos, será o responsável por ministrar o curso. Nesta entrevista, ele explica a importância da atividade dentro das instituições, ressalta a necessidade de se capacitar e detalha a formação oferecida pelo CBA.
Como a capacitação oferecida pela CBA pode ajudar o profissional que deseja atuar na área de Qualidade dentro das unidades?
O curso é voltado para profissionais que já trabalham na área da Saúde e que buscam se educar nesse olhar, conhecer os processos, se aperfeiçoar nessa experiência. É muito comum que instituições acreditadas ou que procuram pela acreditação atribuam a incumbência de atuar na Qualidade a pessoas que já exercem algum cargo na unidade e que demonstrem interesse pela função. Por isso, é fundamental a qualificação.
Qual é a importância dessa função dentro dos hospitais?
É indispensável que as unidades que buscam a excelência em seus processos tenham mecanismos para se autoavaliarem. Dessa maneira, é possível manter os padrões exigidos e prevenir problemas.
Como serão as aulas?
O conteúdo é dividido em dois dias de curso, com carga horária total de 16 horas. Vamos abordar os processos de Qualidade, com foco na área de Saúde, e promover exercícios em grupo como, por exemplo, a elaboração de check lists de auditoria em setores importantes das unidades. A ideia é que os participantes possam ter uma vivência de como funciona a atividade no dia a dia dos hospitais.
Qual é o público-alvo do curso?
São profissionais com formação de nível superior nas áreas da Saúde ou em Administração e Engenharia. Nesses dois últimos casos, é importante que tenham experiencia em gestão ou prática em serviços de saúde.
Qual o conteúdo programático do curso?
Falaremos sobre a importância e o papel dos auditores internos; estrutura, planejamento e organização do Corpo de Auditores e suas técnicas; gestão e cuidados ao paciente, entre outras abordagens. Os conceitos expostos no curso são baseados nas óticas da ISO 9001-2008 e do processo de Acreditação Internacional – metodologia JCI.
Mais informações e inscrições em http://ead.cbacred.org.br/curso/auditores-internos-da-qualidade-curso-presencial ou pelo telefone (21) 3299-8200.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O que ainda precisamos fazer pela segurança do paciente?



O que ainda precisamos fazer pela segurança do paciente?
Por José de Lima Valverde Filho,
médico e coordenador de acreditação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA)

Mês passado o Brasil celebrou o “Abril pela Segurança do Paciente”, data instituída pelo Ministério da Saúde por ocasião do lançamento do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Passados cinco anos, nem todas as instituições de saúde do país implantaram o Núcleo de Segurança do Paciente, apesar da obrigatoriedade da RDC 36, de julho de 2013.
Apesar da cultura de segurança estar mais disseminada entre os profissionais de saúde brasileiros, ainda ocorrem, em proporções elevadas, eventos adversos evitáveis relacionados a falta de adesão a procedimentos de segurança. Entre esses eventos, estão os associados a administração de medicamentos por profissionais da saúde. São eventos com alta probabilidade de proporcionarem significantes danos aos pacientes, como morte ou lesões permanentes. Embora a OMS assegure que é difícil estimar a prevalência desse tipo de evento – denominado genericamente de erro de medicação –, devido à variação de definições e sistemas de classificação utilizados, as taxas de prevalência de ocorrência são amplamente variáveis em diferentes partes do mundo. Um estudo do Reino Unido identificou que 12% de todos os pacientes de cuidados primários podem ser afetados por um erro de prescrição ou monitoramento ao longo de um ano, aumentando para 38% naqueles acima de 75 anos. Em pacientes que receberam cinco ou mais drogas durante um período de 12 meses, esse risco é de 30%. Outro estudo sueco encontrou uma taxa de erro de medicação de 42%. Já na Arábia Saudita, um levantamento concluiu que pouco menos de 1/5 das prescrições de cuidados primários continha erros, sendo uma minoria, de maior gravidade. No México, um apontamento revelou que 58% das prescrições continham erros, a maioria de dosagem (27,6%).
Embora haja alguns levantamentos pontuais, ainda não se tem um retrato efetivo sobre ‘erros de medicação’ no Brasil. No entanto, esses exemplos demostram que estamos diante de um problema global. Além dos erros de prescrição, quando o profissional se equivoca, de diferentes modos, na prescrição correta do medicamento, as falhas podem ocorrer na  dispensação (quando a farmácia envia o medicamento errado); por omissão (quando um medicamento prescrito não é administrado, sem justificativa técnica); por erro de horário (quando os intervalos de administração são errados ou o medicamento é administrado fora do horário ou do intervalo terapêutico); de administração não autorizada de medicamento (quando sem ordem médica, um medicamento é administrado); de dosagem (quando a dose é inferior ou superior a prescrita);
erro de apresentação (quando o medicamento certo é administrado, mas pela via inadequada ou apropriada); erro de preparo (quando a diluição do medicamento, por exemplo, é feita com diluente inapropriado); erro de administração (quando a via é errada, por exemplo intramuscular ao invés da venosa);
erro com medicamentos já inadequados ao uso (quando medicamentos expirados ou vencidos são administrados); e erro de monitoração (quando são ignoradas as atenções com os possíveis eventos colaterais ou indesejáveis de alguns medicamentos).
Portanto, as oportunidades de erros são grandes e somente a qualificação de todos os envolvidos na cadeia de medicamentos (da aquisição a administração) pode diminuir a incidência desses casos, que são comumente causados por problemas de comunicação ineficiente, ambiguidades em nomes de produtos, instruções de utilização, abreviaturas ou escrita médicas, maus procedimentos ou técnicas, ou uso indevido do paciente por causa da má compreensão das instruções de uso do produto.
Para evitar que as possibilidades de erros aconteçam é preciso estabelecer e rever processos permanentemente. Apontar culpados só permitirá a reincidência. Em caso de incorreções, a transparência é essencial para evitar danos maiores. O NHS, sistema nacional de saúde do Reino Unido, criou o chamado o “Duty of Candour”, que estabelece, entre outros, o dever do profissional e/ou da instituição em comunicar aos pacientes e familiares sobre erros. Estudos demonstram que a transparência reduz o litígio.
Entretanto, nosso maior desafio é lidar com a conscientização do problema. Uma questão significante é a falta de sensibilidade da indústria farmacêutica que continua a produzir fármacos diferentes, em embalagens e apresentações muito semelhantes. É importante também ressaltar que os cuidados com medicamentos devem ser estendidos a outros produtos, como contrastes e alimentação enteral, por exemplo. Por fim, mas de altíssima significância, as estratégias empregadas para a redução de erros de medicação não podem, em absoluto, prescindir do papel de farmacêuticos clínicos. Entre outras atividades de responsabilidade na cadeia de aquisição e uso de medicamentos, são eles que avaliam as prescrições quanto a interações medicamentosas e a adequação as condições dos pacientes. Outros suportes reduzem a probabilidade de erros, como a prescrição eletrônica e programas educacionais, geralmente em intervenções multifacetadas. Há também uma necessidade de intervenções pontuais como a preceptoria de especialistas para o uso apropriado de determinados fármacos como os antibióticos.

A Joint Commission International (JCI) e seu associado brasileiro, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) tem feito importantes esforços no sentido de disseminar os padrões de Gerenciamento e Uso de Medicamentos, que é bastante amplo e aborda várias questões sobre fármacos. Se, efetivamente, implantados reduzem a incidência de erros de medicação. A Meta Internacional de Segurança do Paciente de número 3 aborda, especificamente, as condições de identificação, segregação e uso de medicamentos de alta vigilância e dos eletrólitos concentrados. O CBA tem ainda abordado o assunto em cursos, palestras, seminários, congressos e nos seus cursos de MBA e de pós-graduação.

Esse é um esforço conjunto. Só se muda um comportamento, com diálogo e enfrentamento do problema. Se queremos um Brasil com mais segurança para o paciente, precisamos estar imbuídos verdadeiramente de esforços e comprometimentos para que desenhemos processos cada vez mais seguros.


  

Entrevista: Claudia Jorgenson, responsável pela revisão de padrões de programas de acreditação e certificação da JCI

Atuando como diretora de Desenvolvimento e Interpretação de Padrões da Joint Commission International (JCI) desde 2012, Claudia Jorgenson é a responsável pela revisão dos padrões dos sete programas de acreditação e dos programas de certificação da JCI. Recentemente, ela esteve no Brasil para conhecer as principais questões e expectativas em relação aos novos padrões para acreditação de ambulatórios, ouvindo representantes de ambulatórios acreditados e de outras organizações do país em processo de educação para acreditação, preparados pelo associado brasileiro da JCI, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA). A metodologia para o desenvolvimento dos novos padrões ambulatoriais, que serão lançados em 2019, prevê ainda outros encontros de membros da JCI com representantes de instituições de saúde em diferentes áreas do mundo, os chamados grupos focais.
Animada com o resultado do encontro no Brasil, Claudia Jorgenson destacou a riqueza das informações coletadas e se disse recompensada pela troca de experiências com gestores tão preocupados com a questão da qualidade no atendimento em saúde e na segurança do paciente. Confira a entrevista completa!
Qual a importância de realizar encontros com representantes locais?
A JCI precisa receber feedback das pessoas que usam os padrões para ter a certeza de que realmente estejam melhorando a qualidade. É importante saber se esses padrões estão funcionando bem para essas instituições.
Como a JCI analisa essas informações de todo o mundo e as filtra para elaborar os novos padrões?
Essa informação é coletada e levada para a minha equipe. Nós procuramos encontrar temas e assuntos que tenham sido mencionados várias vezes, por diferentes pessoas. Com base nesse feedback, analisamos como é possível melhorar os padrões. Fazemos esse estudo em várias partes do mundo, porque estamos falando de padrões que são usados internacionalmente.
Quantas reuniões e em quais locais essas reuniões são realizadas?
Tentamos ir a diferentes regiões, para ter certeza de que teremos feedbacks variados. Procuramos localizar onde existem mais ambulatórios acreditados. O Brasil tem cerca de 18 ambulatórios acreditados, no Oriente Médio são aproximadamente 25. E estamos buscando também trabalhar na região da Ásia: na Tailândia e na Coreia são aproximadamente 20 ambulatórios acreditados. Buscamos receber o feedback dos clientes que utilizam os nossos padrões.
Por que há a necessidade de elaboração de novos padrões e protocolos?
Porque o cuidado ao paciente está sempre mudando. Sempre surgem coisas novas. Por exemplo, em relação à tecnologia da informação. Muitas organizações estão usando prontuários médicos eletrônicos. Então, temos que desenvolver padrões que enderecem às questões da segurança da informação em relação aos prontuários médicos eletrônicos.
De quanto em quanto é preciso fazer revisões dos padrões existentes?
Tentamos fazer a cada três ou quatro anos. Nossos padrões são certificados pela International Society for Quality in Healthcare (ISQua) e a cada quatro anos temos que fazer a acreditação dos nossos próprios padrões. Então, tentamos atualizá-los dentro desse período.
Quais as principais questões trazidas pelos representantes de ambulatórios acreditados de todo o mundo, em especial, do Brasil?
A mais importante foi como customizar os padrões para instituições menores, não hospitalares. Como customizar padrões que são de hospitais para ambulatórios. Mundialmente falando, vimos que temos que ter padrões mais específicos para centros médicos distintos, como odontológicos, de diagnóstico e de exames de imagem. O Brasil trouxe muito essa questão da necessidade de padrões aplicáveis a organizações menores. Os brasileiros também trouxeram preocupações relacionadas a tratamentos oncológicos e à saúde mental dos próprios funcionários, em relação à dificuldade de lidar com o dia-a-dia, com as questões de erros no tratamento e mesmo a dificuldade em lidar com pacientes oncológicos, ou seja, fatores mais ligados ao emocional e à saúde mental do funcionário.
Quando você fala customização, na realidade é uma adequação? Por que isso é necessário?
Os pacientes internados e ambulatoriais têm os mesmos tipos de problemas, mas de formas diferentes. Então, vamos analisar o exemplo das quedas. Pacientes internados têm risco muito maior de queda. Dentro do hospital, ele está dentro de um quarto, sem a família, com risco maior de queda. Geralmente, está doente e pode estar numa condição de fraqueza maior, então a avaliação do risco de queda e intervenção para a prevenção de quedas é diferente. O paciente no ambulatório está geralmente bem, andando perfeitamente. Alguns deles têm risco de queda. Pode não ser um risco tão grande quanto o dos pacientes internados, então temos que olhá-los de forma diferente.
A partir das questões trazidas pelos representantes de ambulatórios acreditados no Brasil já houve alguma discussão sobre respostas e soluções?
Houve a coleta dessas informações. Minha equipe vai se debruçar sobre o assunto e mais tarde eu vou retornar a essas instituições com as recomendações. Essas instituições vão fazer um ‘trabalho de campo’ com base nessas recomendações e posteriormente vão repassar à JCI as conclusões: o que foi e o que não foi aplicado, o que deu certo e o que não deu resultado. A equipe da JCI vai trabalhar novamente sobre esse material para então definir os novos padrões a partir das sugestões que foram feitas. Esse é o ciclo de desenvolvimento de novos padrões.
De que forma os padrões / protocolos JCI podem ajudar a melhorar a qualidade e segurança na saúde?
Acredito que os padrões ajudam as organizações a identificar onde é preciso trabalhar. Os padrões foram desenvolvidos com base em situações que foram analisadas ao longo dos anos e que poderiam causar danos aos pacientes. A implementação dos padrões deve reduzir os riscos dos pacientes de terem danos.
Como avalia a saúde no Brasil?
É difícil dizer, porque eu não tenho grande experiência sobre o cuidado assistencial no Brasil. Mas gostaria de registrar que acho maravilhoso que as pessoas tenham dedicado seu tempo para discutir sobre melhorias dos cuidados ao paciente em suas organizações. São pessoas muito ocupadas que reservaram tempo para vir a esse encontro, trocar experiências comigo. Algumas vieram de outros estados, de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul. Então, eu me sinto muito recompensada em ver que há esse interesse e essa preocupação por parte desses profissionais.



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