sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Artigo: Erro no cuidado de saúde



Erro no cuidado de saúde 
Por Adelia Quadros Farias Gomes*

Quando o paciente procura um médico ou um serviço de saúde espera que a assistência seja prestada com qualidade técnica e segurança. Nem sempre o desfecho é o desejado, mas deve ser sempre o resultado da própria condição de saúde do paciente, jamais decorrente de erro.
Infelizmente, nem sempre é assim. A mídia tem noticiado inúmeros casos de danos causados não pela doença, mas pelo processo de cuidado de saúde, sendo muitos desses, decorrentes de erros cometidos pelos profissionais de saúde (sejam eles médicos, enfermeiros, farmacêuticos ou outros). São chamados deerros médicos”, termo inadequadamente utilizado.
É importante reconhecer que o problema da falta de segurança e os erros estão relacionados à organização de saúde, ao ambiente, aos produtos e à complexidade da assistência, com a realização de inúmeros procedimentos e processos interdependentes. Erro não é sinônimo de incompetência profissional. Muitos erros acontecem com profissionais bem qualificados. Sendo assim, a expressão “errors in health care – erros no cuidado de saúde” é mais adequada, uma vez que esses erros são um problema sistêmico e não apenas individual.
Chama a atenção a reflexão do médico Dario Ferreira: “Os médicos e profissionais de saúde ainda não perceberam a gravidade, o tamanho, a importância epidemiológica e a catástrofe que são os danos que a gente causa aos pacientes”.
Uma questão relevante é que os erros no cuidado de saúde representam um grande desperdício de recursos, cada vez mais escassos. Estima-se que custem entre US$ 17 e 29 bilhões por ano. No entanto, o impacto dos erros vai além do custo financeiro. Pacientes internados, em especial os que estão em terapia intensiva, recebem dezenas de ações e procedimentos corretos e adequados para o seu cuidado. A taxa de assertividade no cuidado é de cerca de 99%. A questão para refletirmos é: será que uma taxa de 99,9% de acertos no processo de cuidado seria adequada?
Para termos ideia do impacto desse percentual, se pode ser ou não suficientemente adequado, consideremos que em outras situações 0,1% de erros significariam cerca de 25 mil objetos distribuídos errados pelos Correios (Brasil) por dia, 200 quedas acidentais de recém-nascido por dia no mundo, e significaria 32 mil cheques bancários compensados na conta errada a cada hora, de acordo com o um estudo feito por William Edwards Deming, um dos pioneiros na aplicação de melhorias no âmbito da qualidade. Outro estudo, de Rosenthal e Sutcliffe, aponta que 0,1% de erros significaria 20 mil prescrições erradas por ano, 500 cirurgias incorretas por semana e 2 mil documentos perdidos por hora. Todavia, para cada paciente, um erro significa 100% de risco ou de dano.
Os erros associados ao cuidado de saúde provocam incidentes que causam danos ao paciente, chamados de eventos adversos. A consequência muitas vezes são as sequelas ou a morte. No entanto, há estudos que comprovam que muitos eventos adversos, principalmente durante a hospitalização, são potencialmente evitáveis. 
Eventos graves e inaceitáveis são denominados never events, pois nunca deveriam ocorrer em serviços de saúde, como por exemplo, choque elétrico durante a assistência; procedimento cirúrgico realizado no lado errado do corpo, no paciente errado; contaminação na administração de O2 ou gases medicinais; suicídio de paciente; óbito ou lesão grave de paciente associados ao uso de contenção física ou grades da cama durante a assistência dentro do serviço de saúde; úlcera por pressão - estágio III ou IV; administração de medicação pela via errada; overdose de insulina devido a abreviaturas ou dispositivo incorreto; transfusão ou transplante de componentes sanguíneos ou órgãos com sistema ABO incompatíveis; entre outros.
As mortes provocadas por erros no cuidado de saúde estão entre as três primeiras causas de óbito nos Estados Unidos. No Brasil, os erros podem estar entre a segunda e a quinta causa de óbitos. Estudo realizado em 133 hospitais no Brasil estimou que, em 2015, mais de 300 mil pacientes morreram em decorrência de erros associados à assistência hospitalar, sendo a segunda causa de morte, ultrapassando os óbitos por câncer e por doenças respiratórias.
É certo que alguns eventos adversos são apenas uma parte do problema dos erros, pois nem todos os erros causam danos ao paciente, como os relacionados ao uso inadequado de medicação. Mas, ainda que a maioria desses erros não resulte em dano ao paciente, é necessário o esforço conjunto para rever os processos e as práticas de segurança. A gestão dos riscos é fundamental para isso e contempla as etapas de identificação, notificação, análise, avaliação, monitoramento, tratamento e comunicação de riscos, além da identificação dos fatores de mitigação, planejamento e implementação das ações de melhoria. Também é de suma importância identificar os fatores contribuintes e suas principais causas. Com a elaboração de um plano de ação, as medidas preventivas e corretivas são adotadas e estratégias implementadas tanto para prevenir quanto para mitigar as consequências dos erros e incidentes.
Tendo em mente que Errar é Humano, e que erros, inexoravelmente, podem acontecer, precisamos torná-los visíveis e atenuar seus efeitos. Os erros devem ser encarados como uma oportunidade para a revisão de processos e aprimoramento da assistência prestada ao paciente.
* Médica, Mestre em Ciências da Saúde Pública, educadora do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) e membro da Sociedade Brasileira de Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (SOBRASP)


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Certificação de Validação de Indicadores e Dados Hospitalares


Transparência é palavra-chave da nova Certificação de Validação de Indicadores e Dados Hospitalares oferecida pelo CBA
Dados equivocados podem levar a perigosos enganos na construção de indicadores na área da saúde. A preocupação com a correção levou o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) a desenvolver uma metodologia certificadora para dados e indicadores, de forma a garantir que sejam, de fato, confiáveis. De acordo com o coordenador de acreditação do CBA, José de Lima Valverde Filho, a validação é uma garantia de que os dados são bons e não induzirão a erros na construção de indicadores. “A validação procura identificar todas as etapas de coleta, como os instrumentos utilizados e a qualificação das pessoas envolvidas, por exemplo”, explica ele.
Os indicadores são avaliados quanto à relevância e fichas técnicas que devem conter metas, tipo de indicadores, fórmula e periodicidade de coleta, entre outras informações. “Quando não há alcance dos objetivos específicos, a organização de saúde deve elaborar e implantar planos de ação para atingir a meta do indicador. Trata-se de um processo contínuo”, afirma Valverde.
A nova Certificação de Validação de Indicadores e Dados Hospitalares foi criada a partir de uma solicitação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), que buscava a máxima transparência na divulgação de dados e informações. “Este é um de nossos valores, tendo a confiança como um meio e a credibilidade como um fim. Decidimos abrir nossos indicadores de eficiência assistencial assim como os métodos de construção desses indicadores para validação externa e, em seguida, divulgar amplamente essas informações a todas as partes interessadas”, conta Ícaro Boszczowski, coordenador médico do HAOC.
Valverde esclarece que, de acordo com a nova metodologia, o CBA irá verificar a acurácia dos dados. “Isso será feito após uma nova coleta de dados previamente colhidos pela instituição, respeitando as mesmas condições. Esses dados serão, então, comparados. Serão aceitos erros amostrais que não ultrapassem os 10%”, esclarece. Para ele, a grande vantagem de uma instituição obter tal certificação é a garantia de que utiliza dados e indicadores corretos.
Boszczowski destaca também a questão da conquista da credibilidade de uma instituição de saúde como um importante diferencial. “Instituições que publicarem um conjunto de dados capaz de traduzir sua capacidade de trabalho, seu compromisso com a qualidade e segurança e sua busca incessante pela atualização utilizando recursos de maneira racional estarão em vantagem competitiva em relação a outras que não conseguirem se comunicar com a sociedade com a mesma clareza”, afirma. Ele acrescenta ainda que os indicadores devidamente validados são importantes instrumentos de autoavaliação e úteis para balizar ações de melhoria intra-institucional. Boszczowski lembra ainda que nova certificação é uma importante ferramenta para o benchmarking, frente a instituições ou grupos de instituições, sociedades de especialidades dentro e fora do Brasil que publicam indicadores e são reconhecidas por seguirem as melhores práticas.
Como são construídos os indicadores
Os indicadores hospitalares são obtidos a partir da coleta e análise de dados agregados para oferecer suporte aos cuidados aos pacientes e à gestão hospitalar. Estes dados fornecem um perfil do hospital ao longo do tempo e permitem a comparação do desempenho do hospital com outras organizações. Em particular, os dados agregados de gestão de riscos, gestão do sistema de infraestrutura, prevenção e controle de infecções e análise de utilização podem ajudar as equipes de uma instituição de saúde a compreender seu desempenho atual e a identificar oportunidades de melhoria. Exemplos de indicadores validados são as taxas de mortalidade hospitalar global e a cirúrgica; a de infecção pós-artroplastias de joelho e de quadril e de readmissão em até 30 dias após cirurgia bariátrica, entre outras.
Valverde ressalta que os indicadores possibilitam conhecer verdadeiramente um determinado desempenho para que se possa modificá-lo, se houver necessidade. “De posse dos indicadores, podemos acompanhar o andamento dos cuidados aos pacientes, avaliar os processos, adotar os redirecionamentos necessários e verificar os resultados e os impactos obtidos. Com isso, aumentam as chances de serem tomadas decisões corretas e de se potencializar o uso dos recursos”, diz. Ainda de acordo com ele, os indicadores favorecem a participação e o empoderamento das partes interessadas que, embasadas em informações, podem contribuir para as ações de melhoria.
A metodologia para validação de dados e indicadores é especialmente, mas não exclusivamente, indicada em casos em que uma nova medida é implantada como, por exemplo, as medidas clínicas que servem para ajudar um hospital a avaliar e melhorar um processo ou resultado clínico importante. Outra situação é quando há uma alteração nas ferramentas de coleta de dados, no processo de extração ou ainda quando muda o responsável pela coleta de dados, assim como mudanças na fonte dos dados e alterações aparentemente inexplicáveis dos resultados de uma medida. A validação também é importante quando os dados serão publicamente divulgados, seja no website da instituição de saúde ou em algum outro meio de comunicação.
Certificação do HAOC
O HAOC conquistou a Certificação de Validação de Indicadores e Dados Hospitalares em janeiro deste ano, mas o esforço começou muito antes. “O trabalho interno foi e tem sido bastante árduo. Estávamos atuando nesse projeto pelo menos cinco meses antes, desde a sua concepção, com uma equipe que conta com médicos, enfermeiros, epidemiologistas, pessoal das áreas de tecnologia da informação e inteligência hospitalar”, conta Boszczowski. A expectativa, de acordo com ele é que a ampla divulgação dos indicadores validados seja de grande utilidade para pacientes, médicos e outros profissionais e parceiros que atuam junto ao HAOC. “Qualidade e segurança resultam de planejamento, execução e monitoramento contínuos dos processos assistenciais e de apoio técnico. Os indicadores certificados atestam a nossa capacidade de entregar o melhor desfecho para o paciente utilizando recursos de maneira racional, de forma que o hospital seja sustentável e a perpetuidade da instituição esteja garantida”, frisa ele.
A nova certificação do CBA tem validade de dois anos e já está disponível. As instituições de saúde interessadas devem preencher um formulário específico e estar em total conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis pelas legislações brasileiras.

SAMU – DF aposta na segurança e é primeiro serviço público de remoção do país a buscar acreditação JCI


SAMU – DF aposta na segurança e é primeiro serviço público de remoção do país a buscar acreditação JCI
Transparência para os usuários, maior controle sobre riscos de infecção e monitoramento dos indicadores de saúde. Estes são apenas alguns dos principais objetivos a serem alcançados por meio do trabalho de melhoria contínua do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal (SAMU – DF). Visando conquistar a acreditação da Joint Commission International (JCI), em 2015, buscou a expertise do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), e implantou na unidade o Programa de Educação para Melhoria da Qualidade e da Segurança do paciente. De acordo com o diretor do SAMU – DF, Rafael Vinhal, os padrões JCI estão sendo implementados de forma gradual. “Foram criados diversos grupos de trabalho setoriais para executarem o programa de segurança e qualidade. Os protocolos operacionais e protocolos clínicos e assistenciais do serviço estão sendo revisados. Posteriormente, será preciso capacitar as equipes de atendimento. A implantação dos padrões envolve toda uma mudança de cultura organizacional, bem como dos processos de trabalho”, esclarece.
É fundamental que todos os atores envolvidos no cenário de atendimento pré-hospitalar estejam familiarizados com os padrões. “Cada um dos servidores da instituição deve estar aberto a aprimorar o seu processo de trabalho de forma a abandonar a cultura do ‘fazer à sua própria maneira’ e adotar rotinas de excelência baseadas em evidências”, frisa Vinhal. “Embora os padrões sejam claros, coerentes e pareçam óbvios de serem seguidos, adotá-los é um desafio. Devemos ter uma gestão de processos e de resultados bem orientada, visando o alcance das metas internacionais traçadas”, completa.
Vinhal conta que desde o início do processo muita coisa mudou. “O serviço passou por uma reorganização administrativa em seu organograma. Foi criada uma farmácia central, com farmácias setoriais, com um farmacêutico responsável. A assistência e logística farmacêuticas eram deficiências no serviço, incluindo o armazenamento e a dispensação das medicações, materiais e insumos”, informa. Ele acrescenta que foram criados núcleos de controle de infecção e de qualidade e segurança do paciente e que o SAMU – DF passou a trabalhar com um maior monitoramento de indicadores e de resultados. Alguns indicadores de serviço, inclusive, tiveram que ser revisados. “Revimos a missão, a visão e os valores da instituição, repensamos os indicadores de saúde, de qualidade e de resultados, refletimos sobre os direitos e os deveres de nossos usuários e criamos comissões de avaliação de prontuários e eventos sentinela”, conta ele.
De acordo com Vinhal, a mudança organizacional provocada pelo Programa de Educação para Melhoria da Qualidade e da Segurança do Paciente foi capaz de dar eficiência aos processos de trabalho. “O Programa nos traz a certeza de que a população está sendo bem atendida e de que estamos prestando um serviço de excelência. Por meio dele, é possível controlar os riscos de infecção, monitorar melhor nossos indicadores de saúde e saber se estamos evoluindo nos processos de trabalho”, garante, destacando ainda que o programa assegura maior transparência para o usuário do sistema, que tem direitos e deveres bem estabelecidos.
Segurança acima de tudo
No SAMU – DF, a questão da segurança é um princípio que vem sendo continuamente reforçado em cursos de educação permanente. Para engajar as equipes nas questões relacionadas à qualidade e segurança, uma comissão executora do Programa de Educação para Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente realiza reuniões periódicas semanais com os gestores do serviço e monitora os grupos de trabalho criados para a execução do programa. Nestes encontros, são reforçadas informações pertinentes ao correto preenchimento dos prontuários, uma questão fundamental no atendimento pré-hospitalar.
Vinhal chama a atenção para o fato de que uma das maiores deficiências no atendimento pré-hospitalar é o controle de infecções. “Embora haja regras claras para o ambiente hospitalar, não há normas específicas de controle de infecções em ambiente pré-hospitalar. Nesse sentido, é necessária a implementação de um programa de controle de infecções, mediante construção de protocolos e de cursos de educação permanente”, diz. O trabalho da comissão, nascida a partir do desenvolvimento do Programa de Educação para Melhoria da Qualidade e da Segurança do Paciente, se dá através da confecção de protocolos, monitoramento de indicadores, vistoria de ambientes de atendimento e ações de educação continuada.
http://www.cbacred.org.br/noticias/2018/08/05.asp

segunda-feira, 13 de agosto de 2018


Análises sobre as necessidades dos pacientes nas instituições de saúde têm destaque na Revista Acreditação
Trazer o paciente para o centro da discussão, ouvi-lo e conhecer suas necessidades. Essa forma de abordar questões envolvendo pacientes e profissionais dentro das instituições de saúde, de forma criativa e eficaz, o design thinking, é o assunto que norteia os trabalhos de dois grandes especialistas: os professores assistentes da Johns Hopkins Carey Business School, a PhD Sharon Kim e o PhD Christopher Myers. A edição atual da Revista Acreditação, publicação científica do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), traz a primeira entrevista da dupla para uma publicação brasileira, na qual apresenta uma forma contemporânea de tratar problemas. “A coisa mais importante é que não podemos supor que sabemos tudo a respeito de clientes e pacientes. Há grande valor em criar um relacionamento com eles nesses processos de busca da solução dos problemas, nem que seja apenas para confirmar os conceitos existentes sobre seus pensamentos, sentimentos e experiências”, explica Kim.

A 14ª edição da Revista Acreditação traz ainda 4 artigos, a resenha do livro ‘Obcecados por Servir’ e uma reflexão temática, na seção ‘No Mundo da Acreditação’. A questão do envelhecimento, o cuidado com o idoso e as necessidades que surgem nesta fase da vida são abordadas em dois artigos: um relato de experiência sobre a atuação de enfermeiros residentes de um hospital privado do Rio de Janeiro que foram convidados a se colocar no lugar do outro em busca do aprimoramento do cuidado, e outro texto que analisou as demandas de orientações para o cuidador familiar de idosos com câncer em cuidados paliativos, presentes na literatura.

A questão de como a comunicação dentro de uma organização de saúde afeta a segurança do paciente é abordada em outro artigo que traz importantes sugestões de boas práticas de comunicação efetiva. Outra questão que mereceu um olhar apurado dos pesquisadores foi a experiência de implementação do Projeto de Encantamento do Cliente no Serviço de Saúde Bucal em um hospital acreditado pela Joint Commission International (JCI). Esta iniciativa teve como foco central a necessidade do cliente e as ações foram desenvolvidas de forma a captar clientes e fidelizá-los, investindo no atendimento personalizado e na qualidade do serviço. Os resultados apresentados no estudo comprovam o impacto positivo na melhoria dos resultados e o aumento na satisfação do cliente.

O livro em destaque apresentado nessa edição é de autoria do médico cirurgião e chief experience officer – CEO do Cleveland Clinic Health System, dr James Merlino. Em Obcecados por Servir, ele faz um relato forte, destemido e corajoso dos desafios enfrentados como profissional e perante as contradições entre a formação acadêmica e a prática médica.
Fechando esta edição da Revista Acreditação, a seção ‘No Mundo da Acreditação’ traz uma relevante reflexão sobre a questão da gestão da qualidade para o uso, manuseio e descarte de rejeitos radioativos em instituições de saúde, trazendo à tona questões como a capacitação dos profissionais, o meio ambiente, a qualidade e segurança do paciente e o uso do material radioativo no avanço das tecnologias em saúde.

A 14ª edição da Revista Acreditação está disponível em

 http://ojs.tecnologia.ws/index.php/Acred01/issue/view/19http://ojs.tecnologia.ws/index.php/Acred01/issue/view/19

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

CBA celebra 20 anos


CBA celebra 20 anos
A tarde do dia 24 de julho, marcou os 20 anos de criação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), instituição que surgiu com a proposta de empreender ações para a melhoria da qualidade em saúde no Brasil.
A celebração dessa caminhada ocorreu na Fundação Cesgranrio, instituição que abrigou a primeira sede do CBA, em 1998. Foi lá que um grupo de médicos, educadores e pesquisadores discutiam semanalmente o futuro da saúde e a melhoria da qualidade nos serviços de saúde no país. Entre esses líderes estavam o diplomata e representante do Brasil na ONU e OEA, Amílcar Ferrari; o ex-reitor da UERJ, ex-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador honorário da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Hésio Cordeiro; o cirurgião e sanitarista Nildo Aguiar, ex-diretor do Hospital de Ipanema, onde implantou o primeiro programa de combate a infecção hospitalar do país, em 1964; Omar da Rosa Santos, ex-presidente da Sociedade de Nefrologia do Rio de Janeiro e membro da Academia Nacional de Medicina, onde ocupa a cadeira de no 17; Orlando Marques Vieira, ex-presidente da Sociedade de Gastroenterologia do Rio de Janeiro e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e detentor da cadeira de no 75 da Academia Nacional de Medicina; José de Carvalho Noronha, ex-Secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e ex-Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde e a médica especializada em saúde pública e ex-professora da UFF e também ex-Secretária de Saúde do Estado, Maria Manuela Alves dos Santos, além do presidente da Cesgranrio, Carlos Alberto Serpa de Oliveira.
Maria Manuela relembrou importantes momentos da história do CBA, destacando como ponto-chave o convênio com a Joint Commission International (JCI), mais antiga e renomada organização internacional de avaliação da qualidade e segurança em saúde do mundo. “Nesses 20 anos, percebemos que não podemos só curar. É preciso prevenir e criar bons hábitos. E a disseminação dos padrões de qualidade implementados pelo CBA, através da metodologia da JCI, foram fundamentais para que instituições brasileiras deixassem de ter uma percepção empírica da qualidade de seus serviços e passassem a ter métricas de segurança nos serviços por elas prestados”, pondera, ressaltando a parceria CBA-JCI se mantém até os dias atuais. “Nosso trabalho vem sendo reconhecido pela JCI, tanto que formamos 12 avaliadores para o CBA, todos integrantes também do quadro de avaliadores da JCI, além de termos nosso contrato de parceria renovado”.
Para o presidente da Cesgranrio, num momento em que há um abandono da saúde pública no Brasil e em especial no Rio de Janeiro, o papel do CBA redobra de importância. “Se tem alguém que possa fazer alguma coisa pela qualidade na saúde é o CBA, especialmente, nesse momento pelo qual passamos. E eu novamente conclamo os membros do CBA a levantar a ideia da qualidade na área da saúde”. E completou, “precisamos de gente nova para levar adiante o que fizemos há 20 anos”.
A solenidade marcou ainda o lançamento do Prêmio Amílcar Ferrari para o melhor projeto de gestão desenvolvidos por instituições de saúde do Brasil, a ser entregue ano que vem durante o Congresso Internacional CBA de Acreditação. Para a viúva de Amílcar Ferrari, a homenagem evidenciou o reconhecimento ao excelente trabalho do marido pela qualidade da saúde no Brasil. “A criação de um prêmio com seu nome demonstra a excelência com que sempre pautou sua vida, trazendo a expectativa de mais qualidade ao melhor trabalho sobre liderança, gestão e inovação, características que lhe eram inerentes”, diz Laura de Saint-Brisson.
Dia de homenagens
Além da homenagem a Amílcar Ferrari, o CBA fez um tributo a seus fundadores: Hésio Cordeiro, Nildo Aguiar, Omar Santos e Orlando Vieira. “Compartilho essa sensação de realidade com o professor Serpa e com a Dra. Maria Manuela, que foram fundamentais para a transformação do ideal da qualidade em saúde”, disse o Hésio Cordeiro ao receber a homenagem. Omar Santos relembrou sua chegada ao CBA ao receber seu louvor: “No ano de 1988, o presidente da Academia Nacional de Medicina, o acadêmico Jarbas Anacleto Porto, me designou para fazer parte do grupo instituidor do CBA e desde essa época tenho trabalhado junto com meus companheiros pela qualidade na saúde. Felizmente, temos nos sentido ‘em casa’ todos esses anos”. Orlando Vieira reiterou que a qualidade é o lema do CBA. “As pessoas acreditaram também nisso. E isso também foi muito importante: acreditaram, investiram e realmente procuraram levar qualidade, principalmente, para a Medicina”. A viúva de Nildo Aguiar se mostrou feliz com a homenagem ao marido: “Fico muito emocionada com essa homenagem a ele, pois, realmente, ele era dedicado a todas as questões da saúde, do social”.
Depoimentos
“Não se falava em segurança, naquela época. Foi muito interessante colaborar com o trabalho que ia ter um impacto direto nos serviços de saúde, do ponto de vista da melhoria da qualidade. Uma pena que ainda tenhamos poucos serviços acreditados. O CBA foi inovador e é uma marca importante nesse sentido, sempre contribuindo para essa melhoria, uma vez que esse é um processo dinâmico; a questão da qualidade e segurança tem que estar sendo pensada e praticada permanentemente.”
Cláudia Travassos, pesquisadora aposentada da Fiocruz; foi do grupo que foi para Chicago conhecer a JCI e coordenou a adaptação do manual americano da JCI para o manual de acreditação do CBA, no Brasil.
“Quando trouxemos essa metodologia para o Brasil, tínhamos muitas dúvidas se seria viável no país por conta das características das instituições locais comparadas à realidade americana. Mas depois entendemos que, além de avaliar e certificar instituições, o grande instrumento era o processo educativo que a gente fazia ao longo disso. Hoje os estudos internacionais falam que para mudar uma cultura dentro das empresas de forma positiva leva de 7 a 10 anos.”
Heleno Costa Júnior, consultor para processos de gestão da qualidade e segurança em saúde
“Estou nessa trajetória junto ao CBA há 13 anos. Tem sido muito gratificante participar disso. Nos seminários que eu participava, ficava muito preocupado porque percebia que as instituições escondiam as coisas que não davam certo. Hoje, as instituições discutem essas coisas abertamente. Foi difícil chegar a esse ponto, mas entendemos que precisamos melhorar e temos que enfrentar esses eventos de alma e peito abertos.”
Antonio Jorge Dias Fernandes dos Santos, coordenador de Educação do CBA
“O CBA é um organismo acreditador diferenciado. Nós entendemos que uma empresa como a JCI, que é parceira do CBA, seleciona as empresas para se associar de maneira extremamente criteriosa. E durante esses anos todos a JCI tem avaliado a capacidade do CBA representá-lo adequadamente. E isso a gente tem feito de uma forma muito interativa com eles. O CBA também tem contribuído com seus produtos próprios ao longo desses 20 anos no sentido de avaliar sempre a conformidade com os melhores padrões que garantam a assistência ao paciente da maneira mais segura possível em um meio que todos sabemos que é extremamente perigoso, com uma série de riscos que são os cuidados de saúde.”
José de Lima Valverde Filho, coordenador de Acreditação do CBA.